TROVADORISMO GALEGO-PORTUGUÊS

        partir da influência da poesia provençal, no final do século XII, surge em Portugal e na Galícia a poesia galego-portuguêsa que retoma o tema do amor em vários gêneros que estão representados nos Cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional, compilados depois da morte do rei Afonso X. Distinguem-se três gêneros: as cantigas de amigo, as cantigas de amor e as cantigas de escárnio e maldizer.  Os textos mais antigos em língua portuguesa são composições em verso em Cancioneiros do final do século XIV. Certamente a poesia trovadoresca nasce antes, através da tradição oral e dos trovadores: “A literatura oral, com efeito, só se fixa por escrito em época tardia da sua evolução, quando as condições ambientes já divergem muito daquelas que lhe deram origem. Portanto seria errado pensar que a poesia portuguesa nasceu com os Cancioneiros [...](SARAIVA, 1989, pg. 44) 

CANTIGAS DE AMIGO



As cantigas de amigo se caracterizam por serem cantigas de mulher (voz feminina), nas quais o trovador designa o seu objeto no primeiro verso. Apesar da semelhança com as cantigas de amor, existem diferenças na forma. 

Seguem o sistema do paralelismo, construindo seis estrofes com dezoito versos.  

“A unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes, ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, que são de vogal tônica a num dos dísticos de cada par, e i ou ê no outro; o último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada estrofe vem seguida de refrão.” (SPINA, 1989, pg. 47) 



Analisando a cantiga de Fernando Esquio: 

Vayamos irmana, vayamos dormir  
nas ribas do lago hu eu andar vi 
a las aves meu amigo. 

Vayamos irmana, vayamos folgar 
nas ribas do lago hu eu vi andar 
a las aves meu amigo. 

Nas ribas do lago hu eu andar vi 
seu arco na mão as aves ferir 
A las aves meu amigo. 

Nas ribas do lago hu eu vi andar 
seu arco na mão as aves tirar 
a las aves meu amigo. 

Seu arco na mão as aves ferir 
a las que cantavam leixá-las guarir 
a las aves meu amigo. 

Seu arco na mão as aves tirar 
a las que cantavam non nas quer matar 
a las aves meu amigo. 
  • Cantiga paralelistica. 
  • A mesma ideia é repetida mesmo mudando as palavras. 

Neste outro exemplo, na quinta de sete cantigas de Martin Codax,  também está presente o paralelismo, mas o número de estrofes é inferior. 


Quantas sabedes amar amigo 
treydes comig’ a lo mar de Vigo 
e banhar nos emos nas ondas. 

Quantas sabedes amar amado 
treydes comig’ a lo mar levado 
e banhar nos emos nas ondas. 

Treydes comig’ a lo mar de Vigo 
e veeremo’ lo meu amigo 
e banhar nos emos nas ondas. 

Treydes comig’ a lo mar levado 
e veeremo’ lo meu amado 
e banhar nos emos nas ondas. 



Cada uma das quatro estrofes contém 1) um dístico composto de dois decassílabos rimados e 2) um refrão não rimado de nove sílabas (ou, na nomenclatura portuguêsa corrente, que não conta a sílaba final átona 1) eneassílabos graves e 2) octassílabo grave)." (JAKOBSON, 1970, pg. 120) 



Ondas de mar de Vigo
Cantiga de Amigo V
Martin Codax


BIBLIOGRAFIA: 

SARAIVA, António José, LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto, 1987. 

JAKOBSON, Roman. Linguística. Poética. Cinema. Trad. Francisco Achcar et al. São Paulo: Perspectiva, 1970. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TROVADORISMO E MPB: uma análise das músicas de Chico Buarque e das poesias galego-portuguesas

TROVADORISMO