TROVADORISMO GALEGO-PORTUGUÊS
CANTIGAS DE AMIGO
As cantigas de amigo se caracterizam por serem cantigas de mulher (voz feminina), nas quais o trovador designa o seu objeto no primeiro verso. Apesar da semelhança com as cantigas de amor, existem diferenças na forma.
Seguem o sistema do paralelismo, construindo seis estrofes com dezoito versos.
“A unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes, ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, que são de vogal tônica a num dos dísticos de cada par, e i ou ê no outro; o último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada estrofe vem seguida de refrão.” (SPINA, 1989, pg. 47)
Analisando a cantiga de Fernando Esquio:
Vayamos irmana, vayamos dormir
nas ribas do lago hu eu andar vi
a las aves meu amigo.
Vayamos irmana, vayamos folgar
nas ribas do lago hu eu vi andar
a las aves meu amigo.
Nas ribas do lago hu eu andar vi
seu arco na mão as aves ferir
A las aves meu amigo.
Nas ribas do lago hu eu vi andar
seu arco na mão as aves tirar
a las aves meu amigo.
Seu arco na mão as aves ferir
a las que cantavam leixá-las guarir
a las aves meu amigo.
Seu arco na mão as aves tirar
a las que cantavam non nas quer matar
a las aves meu amigo.
- Cantiga paralelistica.
- A mesma ideia é repetida mesmo mudando as palavras.
Neste outro exemplo, na quinta de sete cantigas de Martin Codax, também está presente o paralelismo, mas o número de estrofes é inferior.
Quantas sabedes amar amigo
treydes comig’ a lo mar de Vigo
e banhar nos emos nas ondas.
Quantas sabedes amar amado
treydes comig’ a lo mar levado
e banhar nos emos nas ondas.
Treydes comig’ a lo mar de Vigo
e veeremo’ lo meu amigo
e banhar nos emos nas ondas.
Treydes comig’ a lo mar levado
e veeremo’ lo meu amado
e banhar nos emos nas ondas.
“Cada uma das quatro estrofes contém 1) um dístico composto de dois decassílabos rimados e 2) um refrão não rimado de nove sílabas (ou, na nomenclatura portuguêsa corrente, que não conta a sílaba final átona 1) eneassílabos graves e 2) octassílabo grave)." (JAKOBSON, 1970, pg. 120)
Ondas de mar de Vigo
Cantiga de Amigo V
Martin Codax
BIBLIOGRAFIA:
SARAIVA, António José, LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto, 1987.
JAKOBSON, Roman. Linguística. Poética. Cinema. Trad. Francisco Achcar et al. São Paulo: Perspectiva, 1970.
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