O MUNDO MEDIEVAL - PANORAMA EUROPEU

Para chegarmos à literatura galego-portuguesa de fato, é necessário inicialmente fornecer uma visão geral sobre a Europa durante o espaço histórico que delimitaremos aos séculos que vão do V ao IX d.C., que permeiam o período da queda do Império Romano do Ocidente  e a criação do Sacro Império  Romano pelo rei Carlo Magno.  

               Por convenção, a data da queda do Império Romano do Ocidente é 476 d.C., império este, que dominou aquelas regiões que, segundo as denominações modernas, são os territórios da Itália, da França, da Inglaterra, da Alemanha ocidental, boa parte da África, Espanha e Portugal. Estes territórios (exceto os africanos que seguirão caminhos diferentes) serão o berço das grandes culturas e literaturas medievais e modernas. Portanto, existe uma estreita relação entre os acontecimentos históricos e o florescimento das literaturas europeias.  


Três grandes fatores influenciaram o mundo latim-medieval: o domínio bárbaro, a tradição clássica, a religião e o cristianismo. 

Antes da queda do Império Romano, o processo de dissolução deste já estava em andamento devido às invasões dos bárbaros, povos provenientes da Alemanha central, da Ásia e até mesmo do extremo Oriente. Estes povos possuíam culturas e língua distintas com estruturas elementares. Através do processo de imitação, os bárbaros absorveram a cultura romana das mais desenvolvidas instituições jurídicas e administrativas. Progressivamente, todo o espaço territorial do Império Romano do Ocidente  foi ocupado pelos bárbaros dando vida a reinos separados. Dessa forma, a unidade administrativa, econômica e linguística do Império Romano se dissolve. Vestígios bárbaros são fortemente presentes na produção literária medieval através de algumas temáticas: a honra, as armas e a guerra. 


Fonte: http://www.fmboschetto.it/Utopiaucronia/canale_di_Augusto.htm
Domínio do Império Romano do Ocidente

Apesar das conquistas barbáricas, a herança latina continuou prosperando, pois os novos reinos necessitavam de leis e códigos, encontrados na cultura românica. Neste período (até o século XIII) nasceram as artes dictandi, manuais que continham instruções sobre como falar e escrever, e a obra intitulada Ethimologie, uma verdadeira enciclopédia sobre o saber da época. Estas obras foram as bases do saber latim-medieval que culminou nas arti liberandi, divididas nos ensinamentos literários e científicos. Ou seja, durante muitos séculos o  latim desenvolveu um papel importante nas atividades especializadas apesar da presença dos povos ocupantes que não abandonaram suas línguas. Os reinos viviam uma situação de bilinguismo. 




Fonte:http://confran.blogspot.com/2013/05/povos-barbaros-historia-dos-povos.html
Invasões dos Reinos bárbaros

O grande elemento de unidade cultural para estes reinos foi a difusão do cristianismo. Para assimilar a fé cristã em relação à realidade cultural do mundo clássico, os povos precisaram assumir os instrumentos da cultura antiga, perpetuando assim, o uso linguístico do latim. Surgiu a tradução do Antigo Testamento que contribuiu enormemente na propagação do cristianismo e na sobrevivência do latim que se tornou a língua da cultura e da religião. Paralelamente, se desenvolveram os mosteiros , essenciais para a sobrevivência das obras clássicas, que com as invasões dos bárbaros correram risco de serem destruídas, mas foram transcritas e difundidas por monges. A presença do cristianismo foi decisiva para a mudança do pensamento e da espiritualidade humana da época: a religiosa. Isso explica a presença constante das temáticas religiosas na literatura medieval, de forma direta ou indireta. 

Neste quadro surge o clero e os intelectuais religiosos chamados clérigos, grandes detentores do saber da época por conhecerem o latim, até os intelectuais de origem laica se destacarem.  





Fonte: http://cultura.culturamix.com/espiritualidade/religiao/como-surgiu-o-clero
O clero na Idade Media

Dessa forma, podemos resumir o mundo medieval europeu definindo uma influência mútua entre as culturas barbáricas, a latina e a cristã, mas unidas pela língua da cultura: o latim. 

Ao longo dos séculos a língua da cultura permaneceu o latim. Mas no nível falado ocorreram mudanças  em base linguística. No ambiente eclesiástico a língua falada continuou o latim, mas até mesmo os eclesiásticos, quando saíam, falavam a língua que a maioria da população utilizava, esta cada vez mais distante da escrita.  Esta língua foi denominada precocemente de vulgar, pois era falada pelo povo (vulgus).  Na Alemanha e na Inglaterra, firmaram-se as línguas de origem germânica, aquelas dos povos dominadores. Nas regiões que estiveram sob o domínio do Império Romano do Ocidente e posteriormente dos invasores bárbaros, prevaleceu esta linguagem falada derivada do latim, a românica.  O conjunto destas regiões formou uma entidade linguística chamada pelos estudiosos România. 

Este processo foi extremamente demorado até começarem a utilizar o vulgar não somente para falar, mas também para escrever. Já nos séculos XI e XII podemos começar a falar de uma série de vulgares caracterizados por identidade linguística e identidade nacional precisa, ou até mesmo de literatura. Todavia, a base românica comum, permitiu a continuação de intensos processos de troca. Podemos falar, do ponto de vista cultural e literário, de uma Europa Românica, tomando como ponto de referência as bases linguísticas. Seguindo uma distinção, existiu literatura em língua d’oc (no Sul da França) e literatura em língua d’oil (no Norte da França) e literatura em Castelhano, que dividia na península Ibérica a hegemonia com o Aragonês. 

BIBLIOGRAFIA:

SPINA, Segismundo. A lírica trovadoresca. São Paulo: Edusp, 1996.
A. ASOR ROSA, Alberto. Dalla decadenza al Risorgimento. Einaudi, Torino, 2009.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TROVADORISMO E MPB: uma análise das músicas de Chico Buarque e das poesias galego-portuguesas

TROVADORISMO GALEGO-PORTUGUÊS

TROVADORISMO